Do Sul da Ásia ao Topo do Mundo: Por Que a Índia Lidera Enquanto o Brasil Estagna?
Quando falamos da Índia, ou Bharat, como é chamada em hindi, estamos lidando com uma nação cujo passado histórico é uma das fundações culturais do mundo. Ao mesmo tempo, a Índia apresenta um futuro que promete transformar o equilíbrio de poder global. Um dado notável: cerca de 50% da população indiana tem menos de 25 anos, proporcionando uma vantagem demográfica que poucos países conseguem rivalizar. Essa juventude é muito mais do que uma estatística; ela representa uma força de trabalho vasta e criativa, capaz de revolucionar setores como tecnologia, manufatura e serviços.
Entretanto, é preciso analisar criticamente o que significa para o mundo essa Índia jovem e em expansão. Apesar do crescimento econômico consistente, o país ainda carrega enormes desafios internos. Problemas como o sistema de castas, desigualdades sociais e infraestrutura precária limitam o potencial de milhões de indianos.
Crescimento Econômico e Contradições Sociais
Nos últimos dez anos, a Índia manteve uma taxa média de crescimento econômico de 6,3%, equiparável à da China no mesmo período (6,5%). E chegou a incríveis 8,2% no ano fiscal terminado em março de 2024. Esses números colocam a Índia como uma das economias emergentes mais promissoras. Mas há uma questão central: como um país com avanços tão expressivos pode permanecer tão marcado por desigualdades gritantes? Um dos maiores obstáculos está no sistema de castas, que, embora oficialmente abolido, ainda influencia profundamente a sociedade indiana.
Esse sistema perpetua a exclusão social de milhões de pessoas, tornando o progresso econômico uma realidade para poucos. A falta de meritocracia em grande parte da sociedade limita o potencial de inovação e crescimento. Comparando com o Brasil, o impacto é semelhante: enquanto a Índia lida com as castas, o Brasil enfrenta o racismo estrutural e a desigualdade regional. Em ambos os casos, a consequência é a mesma: milhões de pessoas presas em ciclos de pobreza e falta de oportunidades.
Uma solução para a Índia seria investir pesadamente em dignidade humana, através de políticas que combinem tecnologia, educação inclusiva e programas de redistribuição de renda. Como apontado pela BBC, o primeiro passo para romper com esse ciclo é garantir dignidade e oportunidades reais para os grupos mais marginalizados.
Índia x Brasil: Desafios e Potenciais
Comparar a Índia e o Brasil é um exercício revelador sobre como democracias emergentes lidam com seus desafios. No quesito educação, por exemplo, o Brasil apresenta uma taxa de alfabetização de 93%, contra 77% da Índia. No entanto, a Índia tem avançado rapidamente em áreas de educação tecnológica e inovação, com instituições renomadas como o Instituto Indiano de Tecnologia (IIT) figurando entre as melhores do mundo. Essa diferença revela duas abordagens distintas: enquanto o Brasil tem maior abrangência na alfabetização, a Índia foca em excelência tecnológica.
Ambos os países enfrentam problemas em áreas rurais. No Brasil, a evasão escolar e a qualidade do ensino básico são preocupações constantes. Já na Índia, a dificuldade de acesso à educação em regiões remotas permanece como um dos maiores entraves. Soluções digitais, como aulas online e ferramentas de aprendizado remoto, poderiam beneficiar ambas as nações.
Programa Espacial e Liderança Tecnológica
Um dos setores onde a Índia tem se destacado globalmente é o programa espacial. A ISRO (Organização Indiana de Pesquisa Espacial) realizou feitos impressionantes, como o lançamento de mais de 300 satélites para outros países e missões de exploração lunar e marciana. A Índia também planeja enviar sua primeira missão tripulada ao espaço, chamada Gaganyaan, nos próximos anos.
O contraste com o Brasil nesse campo é evidente. Embora o Brasil possua o Centro de Lançamento de Alcântara, um dos mais bem localizados do mundo, a falta de investimento e continuidade em políticas públicas tem limitado seu avanço no setor aeroespacial. Aqui, há uma oportunidade clara de cooperação: o Brasil poderia se beneficiar de parcerias com a Índia em tecnologia espacial, enquanto oferece sua localização estratégica para lançamentos.
Mais importante ainda, a liderança da Índia nesse campo é um modelo para países emergentes. Em um mundo onde satélites são cruciais para comunicação, monitoramento ambiental e segurança, o programa espacial indiano demonstra como investimentos consistentes podem transformar a posição de um país no cenário global.
Se o programa espacial indiano é uma amostra do futuro, então o Brasil está perigosamente atrasado na corrida pela relevância global. Mas a verdade é que o espaço não é o único lugar onde a Índia parece estar traçando um caminho que deixará o Brasil no retrovisor. O crescimento econômico robusto, a força de trabalho jovem e a busca por inovação tecnológica formam um tripé que a Índia está aprendendo a explorar — mesmo enquanto enfrenta seus próprios desafios internos. Já o Brasil, atolado em questões de curto prazo e reformas que nunca saem do papel, corre o risco de perder sua posição como líder entre as economias emergentes.
Sustentabilidade e Energia: O Brasil Estagnado e a Índia em Expansão
Quando o tema é energia, o Brasil costuma ser apontado como modelo global em energias renováveis, graças ao etanol e à hidroeletricidade. Mas a Índia, com todos os seus problemas estruturais, tem dado passos mais ousados. O país está investindo massivamente em energia solar e eólica, com a meta de atingir 50% da matriz energética em fontes renováveis até 2030. Enquanto isso, o Brasil, apesar de sua vantagem natural, não tem explorado totalmente seu potencial em energia limpa devido a políticas inconsistentes e falta de planejamento de longo prazo.
A crítica mais grave aqui é que o Brasil se acomoda no que já funciona, enquanto a Índia se desafia constantemente. Para um país tão abençoado por recursos naturais, o Brasil tem uma mentalidade míope e imediatista. Enquanto a Índia cria grandes parques solares no deserto de Thar e atrai investidores internacionais para suas iniciativas verdes, o Brasil debate sobre desmatamento e segue refém de interesses agropecuários e mineradores que drenam seu potencial sustentável.
Se nada mudar, em 20 anos o Brasil poderá se encontrar importando tecnologias indianas para fazer o que já deveria estar liderando. E o pior: não será a falta de recursos, mas a falta de visão que deixará o país para trás.
Relações Internacionais: Diplomacia Versus Estagnação
A Índia tem se consolidado como uma líder regional e um player cada vez mais influente no cenário global. A política externa indiana, voltada para o fortalecimento de laços com grandes potências e para a liderança no sul da Ásia, é um exemplo claro de uma estratégia que pensa a longo prazo. Mesmo com tensões como a rivalidade com o Paquistão e os choques com a China, a Índia tem conseguido se posicionar como um mediador em questões globais.
E o Brasil? O país parece preso a ciclos de isolamento diplomático ou alianças que não geram resultados concretos. Enquanto a Índia negocia parcerias bilaterais com os Estados Unidos, coopera com a Rússia e disputa a influência regional com a China, o Brasil ainda depende quase exclusivamente de commodities para manter suas relações comerciais. Não é coincidência que a Índia esteja construindo um poder de barganha que o Brasil só pode invejar.
A crítica aqui é simples: o Brasil, com sua posição geográfica privilegiada e o Mercosul ao seus pés, tem uma diplomacia fraca, muitas vezes pautada por crises internas e mudanças de direção política. A Índia, por outro lado, compreendeu que crescer globalmente exige consistência e foco.
Educação e Tecnologia: Onde a Índia Deixa o Brasil para Trás
A questão educacional é um divisor de águas. A Índia, com todos os seus problemas de desigualdade e infraestrutura, conseguiu construir uma elite educacional através de instituições como os Institutos Indianos de Tecnologia (IITs), que estão entre os melhores do mundo. Esses centros não apenas formam engenheiros e cientistas altamente qualificados, mas também alimentam o setor tecnológico indiano, que é hoje um dos maiores exportadores de serviços digitais do mundo.
No Brasil, a situação é dramática. Embora tenhamos uma taxa de alfabetização superior, o ensino superior brasileiro é marcado por desigualdade no acesso, evasão escolar e falta de conexão com o mercado de trabalho. Não temos um “Silicon Valley” brasileiro ou sequer um modelo claro de como criar centros de excelência tecnológica que possam atrair investimentos e talentos globais.
A crítica aqui é contundente: enquanto o Brasil luta para corrigir o básico na educação, a Índia já está pensando em como moldar o futuro da inteligência artificial, da robótica e da exploração espacial. Se o Brasil não investir de forma massiva em educação técnica e inovação, em poucos anos poderemos estar consumindo não apenas tecnologias indianas, mas também exportando talentos para trabalhar lá.