Eco de Ecologia e Economia: Um Futuro Sustentável

Eduardo Portilho
11 min readJan 13, 2025

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A existência de entretenimento e sustentabilidade por meio de estádios e arenas ecologicamente corretos não é uma mera utopia, mas uma urgência em face das exigências ambientais e urbanas do século XXI. O crescimento acelerado nas áreas urbanas trouxe graves efeitos para o meio ambiente, sendo que a infraestrutura urbana, tal como o lazer nas cidades, consistindo de estádios, arenas e edifícios produz normalmente elevados níveis de emissões de carbono, destruição de ecossistemas e gestão inadequada dos recursos naturais. Neste artigo, examinaremos como experiências concretas em estádios ecológicos e espaços verdes podem ser pensadas no Brasil, incluindo métodos práticos, dados e sugestões para tornar esse futuro viável.

O exemplo do “Forest Green Rovers”, time inglês que se autodenominou o time mais sustentável do mundo, mostra o potencial dos estádios ecológicos. O time, além de adotar práticas renováveis, deseja construir o “Eco Park”, um estádio feito todo de madeira, com tamanho mínimo para 5.000 pessoas. Projetado para que seu funcionamento seja de carbono neutro integrando água pluviais que irão reduzir em 40% o uso de água potável, além de ter placas/painéis solares para suprir 100% a sua energia. O time, segundo a ONU, é o primeiro do mundo a ter a certificação “Carbon Neutral”. O custo total do projeto é significativo (£100 milhões), porém os benefícios ambientais e sociais previstos são substanciais, podendo inspirar projetos semelhantes pelo mundo.

Direitos autorais Zaha Hadid Arquitetos

Um exemplo notável é o “Gardens by the Bay” em Singapura. Com um investimento inicial de aproximadamente US$ 1 bilhão, este parque mescla um design arquitetônico inovador com práticas sustentáveis. As icônicas “superárvores”, que são estruturas verticais, não apenas captam energia solar, mas também coletam água da chuva e purificam o ar. Desde sua abertura em 2012, o país recebeu mais de 50 milhões de visitantes, resultando em uma receita anual superior a US$ 100 milhões. Esses números evidenciam o efeito positivo de iniciativas ecológicas, não apenas sobre o meio ambiente, mas também sobre a economia local, estabelecendo um ciclo virtuoso entre sustentabilidade e desenvolvimento urbano.

Nos Estados Unidos, o estádio Mercedes-Benz, localizado em Atlanta, representa um exemplo de infraestrutura esportiva que combina eficiência energética com princípios de sustentabilidade. Recebendo o certificado “LEED Platinum”, o mais elevado reconhecimento em construção sustentável, o estádio implementa sistemas para a captação de água da chuva com uma capacidade de armazenamento de 2 milhões de galões, contribuindo para a diminuição do risco de inundações urbanas. Ademais, a instalação de painéis solares e o uso de iluminação natural resultam em uma economia de cerca de 29% no consumo de energia. Essas inovações proporcionam uma economia anual aproximada de US$ 900 mil e se apresentam como um modelo a ser seguido por outras arenas em áreas de alta densidade populacional.

A relevância de tais projetos torna-se ainda mais evidente quando levamos em consideração os impactos ambientais diretos e indiretos. Há estudos que afirmam que a urbanização pode elevar em até 10°C as temperaturas locais, em decorrência do efeito “ilha de calor”, sendo os espaços verdes, neste caso, auxiliares na mitigação deste efeito. Por exemplo, o High Line Park em Nova Iorque reduziu cerca de 2°C na temperatura ambiente da área onde foi implementado. Árvores plantadas nas áreas urbanas podem sequestrar até 22 kg de carbono/ano. Um estádio, com a presença de 1.000 árvores, mitigaria cerca de 22 toneladas de carbono por ano, como contribuição significativa na mitigação das emissões globais.

Ainda mais importante é a contribuição dos espaços verdes para a saúde mental e física da população. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) asseguram que a presença de áreas verdes pode diminuir os níveis de estresse em até 60% e aumentar em 47% a prática de atividades físicas. Estes fatores, como um todo, refletem a influência benéfica na qualidade de vida das comunidades urbanas, trazendo o caráter multifuncional das iniciativas. No Brasil, a distribuição de espaços verdes e a construção de estádios sustentáveis ainda encontram elevados obstáculos, mas, ao mesmo tempo, oportunidades vindas da rica biodiversidade e recursos naturais do país. Um dos principais obstáculos diz respeito ao alto custo inicial dos empreendimentos sustentáveis; no entanto, soluções como parcerias públicas-privadas e a criação de linhas de crédito verde podem tornar estes investimentos viáveis. Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), projetos sustentáveis no Brasil podem receber financiamentos com taxas de juros reduzidas, incentivando a adesão de investidores e gestores públicos.

Além disso, a reutilização de áreas abandonadas — como antigas indústrias e terrenos subaproveitados — poderia ajudar a reduzir custos e maximizar o impacto positivo para o meio ambiente. Um empreendimento que deu certo foi a recuperação da área do Parque Madureira, no Rio de Janeiro, que, além de baixar a temperatura local em até 3°C, transformou-se em um centro de convivência e lazer a serviço de milhares de pessoas. Projetos similares poderiam ser aplicados em outras regiões metropolitanas, como São Paulo, Belo Horizonte e outras capitais, utilizando terrenos que não servem mais, para a criação de áreas verdes multifuncionais.

Para tornar tais projetos uma realidade, é crucial que se estabeleçam regulações para encorajar práticas sustentáveis na construção de infraestruturas urbanas. Certificações como a “LEED” deveriam ser forçosamente exigidas para novos estádios e instalações de grande porte. De outro lado, o governo poderia conceder isenções fiscais para companhias que incluíssem soluções verdes em seus projetos. Nas áreas suburbanas e rurais, pequenas arenas poderiam integrar sistemas agroflorestais, fazendo a sobreposição de produção de alimentos e áreas de lazer. O Brasil possui, segundo o IBGE, mais de 200.000 hectares de áreas urbanas subaproveitadas, que poderiam ser reaproveitadas para esses fins.

Outro aspecto igualmente relevante é a participação da sociedade civil e das universidades. Universidades do Brasil, como a USP e a UFRJ, têm realizado pesquisas em soluções urbanas sustentáveis, tais como pavimentos permeáveis e telhados verdes. O vínculo entre pesquisa acadêmica e políticas públicas pode ser uma ponte para a anchorage de práticas inovadoras em projetos urbanos. Além disso, campanhas de conscientização podem informar a população acerca dos benefícios econômicos, sociais e ambientais proporcionados pelos espaços verdes.

Igualmente, o valor econômico dos espaços verdes é significativo. Estudos apontam que a mera presença de áreas verdes pode aumentar o valor das propriedades até 20%. Imóveis situados nas proximidades do Central Park, em Nova Iorque, frequentemente atinge valores milionários devido ao acesso deferido ao parque; no Brasil, o entorno do Parque Ibirapuera (SP) apresenta padrões semelhantes com uma valorização de imóveis em condições além da média da cidade.

Ainda, os empreendimentos sustentáveis atraem turistas e, portanto, geram receitas que criam empregos verdes. No Brasil, o turismo poderia se beneficiar amplamente de projetos que unissem a sustentabilidade ao lazer, especialmente nas regiões com grande apelo ecológico, como a Amazônia e o Pantanal. De acordo com dados do Ministério do Turismo, 63% dos turistas estrangeiros que visitam o Brasil vêm à procura de experiências relacionadas à natureza, indicando um grande potencial de crescimento para este setor.

Nesse sentido, a governança climática descentralizada pode ser um novo instrumento para fortalecer os projetos sustentáveis e, por exemplo, a gestão de espaços verdes e os estádios ecológicos. A tecnologia blockchain, por exemplo, pode ser fundamental porque propicia transparência e rastreabilidade para projetos ambientais. Um exemplo é a Blockchain for Climate Foundation, que utiliza a tecnologia para gerar um “Ledger de carbono nacional”, permitindo que os países façam o rastreamento e a comercialização de créditos de carbono de forma eficiente, seguindo os requisitos do Acordo de Paris. Essa abordagem poderia ser utilizada em iniciativas brasileiras, permitindo gerir e financiar projetos sustentáveis e atrair investidores que buscam práticas ambientalmente responsáveis.

Outras plataformas descentralizadas, por exemplo a Regen Network, reforçam a conexão entre a tecnologia e a proteção ambiental. Ela recompensa as práticas agrícolas regenerativas, estimulando conservação de terras e incentivando os agricultores a implementarem métodos mais sustentáveis. No Brasil, onde a agroindústria é uma parte central da economia, a implementação de sistemas como este poderia garantir a preservação de biomas críticos, como o Cerrado e a Mata Atlântica, enquanto entrelaça o crescimento econômico. A preservação de mais de 20.000 hectares de terra, já alcançada pela Regen Network em colaborações globais, exemplifica o impacto transformador dessas iniciativas.

A adoção de tecnologias sustentáveis no Brasil, como as divulgadas pela SolarCoin, Regen Network e Blockchain for Climate Foundation, poderá beneficiar extraordinariamente a economia verde do país, sobretudo sob uma presidência que priorize a governança climática. A título de exemplo, a motivação para a produção de energia solar por meio de cripto moedas, como a SolarCoin, poderia gerar renda para pequenos e grandes produtores de energia limpa . É estimado que, se o Brasil fosse capaz de explorar seu potencial solar, que ultrapassa 15 TWhs anuais em ambientes urbanos, ele poderia distribuir milhares de tokens, gerando uma economia da ordem de R$ 1,2 bilhão por ano em energia. E isto poderia alinhar o Brasil a estimativas mundiais apontando que o uso de blockchain para monitoramento ambiental poderia suportar uma redução de 15% nas emissões de carbono até 2030, movimentando US$ 20 bilhões anuais no mercado de carbono.

Ciro Gomes, defendendo a transição para a economia descarbonizante, afirmou que “a floresta em pé vale muito mais que um campo onde aconteceu o desmatamento”. Sob a sua presidência, o zoneamento econômico e ecológico, aliado à ciência e tecnologia locais, poderá maximizar a preservação de biomas como a Amazônia e o Pantanal . Segundo os dados do MapBiomas, o Brasil perdeu 13.038 km² de floresta somente em 2022. A redução desse índice em apenas 20% já representaria a manutenção de aproximadamente 2.600 km² de floresta por ano, capturando mais de 5 milhões de toneladas de CO₂ anualmente. Mas Ciro defende ainda a reestatização da Eletrobrás como um modo de assegurar a hierarquia no uso das águas, um ponto essencial para a preservação do abastecimento hídrico de 70 milhões de nordestinos que dependem de hidrelétricas.

O compromisso de Ciro com a regularização fundiária indígena e a vedação da mineração em terras indígenas são um forte complemento para a sua visão de uma sustentabilidade integrada. De acordo com os dados do IBGE, as terras indígenas possuem 99% de sua vegetação nativa em pé, enquanto áreas não indígenas, apenas 43%. Proteger tais terras indígenas poderia preservar mais de 119 milhões de hectares de floresta e proteger segurança climática e cultural. Em contrapartida, Ciro tem defendido o fortalecimento de uma “nova Petrobras”, voltada para fontes sustentáveis como eólicas e solares, que atualmente representam 11% da matriz energética brasileira mas que são permanentes e com o potencial de dobrar até 2035. Sob uma política mais ambiciosa, o Brasil poderia liderar o setor mundial, tirando proveito da sua capacidade de gerar até 250 GW para a energia eólica offshore (e do eólica onshore), segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Se corretas, essas iniciativas poderiam tornar o Brasil em um modelo mundial em economia verde.

A inteligência artificial (IA) poderá ser uma aliada poderosa na transformação de estádios e espaço urbano em verdadeiros modelos de sustentabilidade. A Siemens e a Schneider Electric, por exemplo, utilizam IA para gerenciar sistemas de energia em grandes edificações, otimizando o consumo em até 40% tendo como base análises preditivas feitas via coleta de dados. Sobre os estádios ecológicos, a IA poderá monitorar em tempo real as emissões de carbono, ajustar automaticamente os sistemas de iluminação e climatização a fim de eliminar desperdícios e até mesmo prever a melhor forma de reaproveitar a água da chuva. Além disso, startups como a CarbonCure utilizam IA para capturar e reutilizar carbono em materiais de construção, oferecendo uma alternativa limpa para obras sustentáveis.

Outro exemplo, pode ser o uso de IA para planejamento urbano integrado, conforme já demonstrado pela Autodesk com o seu software BIM 360, que combina dados climáticos, geográficos e demográficos para determinar as melhores áreas para a implementação dos projetos verdes. No Brasil, as iniciativas das cidades inteligentes de Curitiba e de Florianópolis mostram como a IA poderia ser uma ajuda para otimizar a mobilidade urbana, reduzir as emissões e contribuir para espaços muito mais sustentáveis. De acordo com dados da McKinsey, a inserção de IA em infraestrutura urbana pode gerar uma economia, para o mundo todo, de US$ 1 trilhão até 2030, ao mesmo tempo em que reduz as emissões de carbono em até 15%. Unir tecnologia, sustentabilidade e práticas urbanas modernas parece um caminho e tanto a se seguir.

A incorporação de tecnologias sustentáveis e de inteligência artificial em estádios e em espaços verdes é uma inovação e uma exigência para fazer frente aos desafios ambientais do século XXI. Exemplos como o Eco Park do Forest Green Rovers, o Mercedes Benz Stadium e o High Line Park provam que é possível reunir a economia, o ambiente e a qualidade de vida. No Brasil, o país da rica biodiversidade e de imensas áreas subutilizadas, há um grande potencial para tornar nossas cidades em referência mundial no que tange a sustentabilidade.

Se já temos as ferramentas, os exemplos e os dados que comprovam as vantagens, a questão é: estamos prontos para aproveitar essas oportunidades de edificar um futuro em que o desenvolvimento e a preservação andem juntos?

DADOS BIBLIOGRÁFICOS:

GARDENS BY THE BAY. About Gardens by the Bay. Singapura, 2023. Disponível em: https://www.gardensbythebay.com.sg. Acesso em: 11 jan. 2025.

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UNESCO. World Heritage and the Pantanal. Paris: UNESCO, 2023. Disponível em: https://whc.unesco.org/pantanal. Acesso em: 13 jan. 2025.

PEREIRA, Ana Cláudia. A vulnerabilidade dos povos tradicionais frente à degradação ambiental. Revista de Direitos Humanos e Meio Ambiente, Curitiba, v. 7, n. 4, p. 78–95, 2022. Disponível em: https://rdhma.ufpr.br/vulnerabilidade. Acesso em: 11 jan. 2025.

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GOMES, Ciro. Projeto Nacional: O dever da esperança. São Paulo: Leya, 2020. Acesso em: 05 jan. 2025.

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EXAME. Allianz Parque, em São Paulo, atende a 64% dos critérios de sustentabilidade em gestão de resíduos, reutilização de água e ações climáticas, equiparando-se a estádios como o Santiago Bernabéu e o Allianz Stadium. Disponível em: https://exame.com. Acesso em: 12 jan. 2025.

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JZ ENGENHARIA. Estádio Luzhniki (Moscou, Rússia): Adotou práticas sustentáveis, incluindo sistemas de economia de água, para atender às diretrizes ambientais durante a Copa do Mundo de 2018. Disponível em: https://jzengenharia.com.br. Acesso em: 12 jan. 2025.

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