I want a time machine too

Eduardo Portilho
2 min readFeb 18, 2025

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O tempo escorre pelas mãos como grãos de areia levados pelo vento. Quem nunca desejou uma máquina do tempo? Não uma de ficção científica, fria e mecânica, mas uma que pulsa, que vibra no ritmo das lembranças e dos sonhos. Uma que nos transporta para aqueles instantes onde a vida pareceu fazer sentido, onde o riso foi sincero, onde o olhar de alguém fez o mundo inteiro se calar. Porque, no fim, o que queremos não é controlar o tempo, mas sentir sua suavidade sem o peso de sua marcha implacável.

As fotografias tentam aprisionar o tempo, mas são apenas sombras do que foi. O cheiro de café numa manhã de chuva, a textura do sofá da casa da avó, a sensação do vento morno numa tarde de verão — isso sim é uma máquina do tempo. Fechamos os olhos e estamos lá, de volta, inteiros, como se nada tivesse mudado. Mas quando abrimos, a realidade nos puxa de volta. E então a pergunta nos assombra: e se pudéssemos ficar um pouco mais?

A ciência já brincou com essa ideia. A dilatação temporal de Einstein nos diz que o tempo é relativo. Que em velocidades próximas à da luz, o tempo se arrasta. Mas de que adianta saber disso se o tempo que queremos manipular não é o dos relógios atômicos, e sim o dos afetos? Não queremos viajar para o futuro incerto, nem para o passado distante de livros de história. Queremos voltar ao abraço que não demos, à palavra que calamos, ao beijo que ficou no ar. Queremos voltar para dizer: “eu estava lá, e aquilo importava”.

Mas há outra face nessa moeda. Se tivéssemos uma máquina do tempo perfeita, se pudéssemos revisitar cada momento, reviver cada sensação, não nos tornaríamos prisioneiros do passado? Não perderíamos o agora, essa fração de segundo onde a vida realmente acontece? Porque o tempo não espera, ele não recua. Ele nos empurra, às vezes com violência, às vezes com doçura, mas sempre em frente. E há beleza nisso também. O presente é um quadro sendo pintado enquanto olhamos, um filme que se desenrola sem roteiro definido.

Talvez a verdadeira máquina do tempo esteja dentro de nós. Nos livros que lemos e que nos levam a séculos atrás, nas músicas que nos fazem sentir como se estivéssemos em um outro lugar, nos cheiros que ressuscitam memórias enterradas. E, mais do que isso, na forma como escolhemos viver agora. Porque, se há uma forma de viajar no tempo, é criando momentos dignos de serem revisitados. Momentos que, quando olharmos para trás, não sejam apenas sombras, mas luzes que brilham forte, nos lembrando que estivemos aqui, que sentimos tudo, que vivemos de verdade.

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