Os Vagalumes que um Dia Esqueceram de Voltar

Eduardo Portilho
3 min readJan 28, 2025

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Saudades daquele vagalume. Ele piscava devagar, tímido, como se não tivesse certeza se deveria existir. Eu olhava, esperava que ficasse um pouco mais, que não fosse engolido pelo escuro. Mas o escuro sempre vence. Se eu não cuidar, ele pode ir embora.

A gente cresce e os vagalumes vão sumindo. Não porque deixamos de vê-los, mas porque eles simplesmente deixam de estar lá. Como se um por um decidisse que não vale mais a pena brilhar. Eu me pergunto se sou eu quem esqueceu o caminho dos vagalumes ou se foram eles que decidiram partir primeiro. Se eu fosse um deles, será que já teria apagado também?

Havia uma época em que eu não pensava nisso. O mundo parecia cheio de vagalumes. Eles se escondiam em tardes quentes, surgiam quando ninguém esperava. Bastava correr para alcançá-los. Mas então vieram os dias cheios de horários, as preocupações que pesam, os medos que surgem do nada. Imaginamos demais e fazemos de menos. Quero ir atrás dos vagalumes, mas e se eu não conseguir encontrá-los? Quero correr, mas e se for tarde demais?

Talvez seja só nostalgia. Mas nostalgia do quê? Eu nunca corri de verdade num campo cheio de vagalumes. Essa cena mora na minha cabeça como uma lembrança, mas nunca aconteceu. Mesmo assim, sinto falta. Falta do que poderia ter sido, do que poderia ter vivido. Como se o mundo tivesse me prometido um instante que nunca chegou.

Os vagalumes são como cidades que deixamos para trás, lugares que nunca mais visitaremos. A gente passa, se encanta, e segue. Na época, não parece grande coisa. Mas um dia, do nada, o nome daquela cidade volta à cabeça, e a gente percebe que nunca mais vai ver aquela praça, aquela esquina, aquela cafeteria onde o tempo passava diferente. Que aquela versão nossa que andou por aquelas ruas ficou lá para sempre. Será que os vagalumes sentem isso também? Será que, quando se apagam, sentem saudade dos lugares onde brilharam pela última vez?

E se os vagalumes simplesmente estiverem esperando que a gente volte a enxergá-los? Talvez nunca tenham ido embora, só aprenderam a brilhar de um jeito que esquecemos como ver. Pode ser que estejam ali, espalhados em pequenos gestos, escondidos no brilho de um olhar, na pausa de uma música, na brisa que passa e arrepia a pele por um segundo. Mas a gente se acostuma a procurar grandes explosões, e ignora os pequenos lampejos.

A gente sempre hesita. Fica esperando o momento certo, o instante perfeito, como se a vida nos desse garantias. Mas será que é esse medo que nos faz perder os vagalumes? O receio de estragar algo, de fazer errado, de se arrepender? A gente acredita que tem tempo, que pode adiar. Mas os vagalumes não esperam. Uma noite eles estão lá, piscando, dançando no ar. Na outra, sumiram.

Eles estão morrendo aos poucos, não é? Sempre achei que o mundo seria cheio deles, mas cada vez vejo menos. Talvez seja só a vida, talvez seja só eu. Mas tenho medo de um mundo sem vagalumes.

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