Pause: Olhe ao Redor, Ainda dá Tempo.

Eduardo Portilho
4 min readJan 17, 2025

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Você já se questionou sobre o tempo que você dedica às redes sociais? Quatro horas diárias, durante cinquenta anos, totalizam nove anos completos de sua vida. Nove anos olhando uma tela, sem nem perceber o passar do tempo. Isso se tornou tão comum que ninguém mais critica. Comemorar algo no virtual, mas nada no real se tornou normal. Um exemplo: hoje é o aniversário de um amigo. Qual é a primeira coisa que você faz? Procura por uma foto antiga para postar e escreve um textinho no Instagram ou em outra rede social. “Parabéns, você é muito importante pra mim.” Mas isso é algo que você fala para ele? Manda uma mensagem direta ou diz pessoalmente? Não, porque isso foi reduzido a um momento para os outros verem, não um momento de comemoração real entre os dois. E quando alguém morre? O impulso é imediatamente postar uma foto do falecido em preto e branco nos Stories, com o “sentirei sua falta”. Mas isso é algo que deveria ser entre você e sua família, um momento de reflexão, não um momento para se expor.

Cada vez mais, as pessoas se apegam à necessidade de aparecer. E não se trata de viver, mas de registrar aquele momento especifico somente para ter a aprovação alheia. A festa de aniversário ou a dor da perda não diz respeito mais as pessoas que estão envolvidas diretamente, mas para quem vai dar um like ou um comentário. Isso é doentio. E falo isso com propriedade, até porquê, quem nunca fez isso? O problema é que se você não postar as pessoas acham estranho. Um amigo próximo poderá compreender, mas os conhecidos vão te julgar. E isso é um reflexo de que as coisas perderam o equilíbrio.

Nos EUA, a média de uso de redes sociais é 4 horas por dia. E no Brasil? Somos ainda mais viciados. É bizarro, até caminhando na rua ou curtindo a natureza as pessoas não se desconectam. As pessoas não conseguem ficar sozinhas em meio a natureza sem postar um story com uma legenda como “desfrutando a vista”, mas na verdade as pessoas mal olham ao redor. As redes sociais devem ter provocado a necessidade de validação. É o prato no restaurante, o novo celular, o carro dos sonhos. Mas para quê? Mostrar? Para mostrar que está “vivendo bem”?

Se parar para pensar, é um ciclo de viver sem satisfações. Quem tem bicicleta sonha em ter moto, quem tem moto quer carro e assim por diante. E no meio disso esquecemos o valor do que temos. Há um ano, talvez você sonhasse estar com celular que hoje você está usando, mas hoje já não é bom. O iPhone novo lança, e lá vai você desejar mais. Mas, se o pneu da sua bicicleta furar, o que você vai querer? Apenas que ele esteja em boas condições, porque, naquele momento, é o que realmente importa.

A vida é feita de momentos simples, que são gratuitos, mas são os primeiros a serem negligenciados. O canto dos pássaros, a brisa leve no rosto, a caminhada. Isto é viver, no entanto, a sociedade contemporânea troca tudo isso por likes e views. A própria conquista de algo parece frequentemente uma ilusão, pois o valor que neles atribuímos parece não passar de uma fração de um segundo. No início, nós cuidamos do novo celular como objeto desejado, depois, mais um objeto, jogado em um canto. Não era valor, mas desejo.

Quando foi a última vez que você fez qualquer coisa sem estar com fones enfiados nos ouvidos ou sem ver a tela de algo por perto? Muitos não conseguem mais ficar sem isso, nem mesmo conseguem ficar a sós com os seus pensamentos. Há algum tempo, os mais velhos sentavam na frente de casa para simplesmente ver o movimento, um comportamento que hoje poderia ser classificado como de doido. Mas é exatamente por isso que perdemos a capacidade de ser simplesmente nós mesmos.

O vício das redes sociais ultrapassa o exagerado. Se trata de como nós somos impactados por elas. Quando se faz uma viagem, é mesmo para se aproveitar o caminho, ou apenas passar o tempo com tecnologia, músicas, vídeos? E quantas vezes nas festas você viu a maioria das pessoas mais preocupadas em postarem do que em viverem? A compulsão de documentar tudo parece ter virado uma obsessão. E, ironicamente, nos momentos em que passamos (em algum momento) sem celular não é uma passagem de tempo que parece genuína e memorável?

Estamos em janeiro, mas já parece que o ano está voando. Você fez algumas promessas? Está realmente cumprindo? Ainda há tempo. Mas não utilize o calendário como desculpa para procrastinar sua vida. Comece agora, sem colocar seu futuro nas mãos de um amanhã que talvez nem venha. Utilize o celular como suporte, e não como uma prisão. Redes sociais podem ser produtivas, desde que você as use e não que elas lhe usem.

A melhor maneira de começar? Desative o que não é preciso. Instagram, Facebook, até mesmo WhatsApp, se for somente para passatempos. Não permita que as redes sociais drenem a sua energia. Lembre-se: é uma coisa usar o celular para seu benefício, mas outra coisa é deixar que o celular o use.

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